Dorothy nasceu às 22 horas e 01 minuto de um domingo chuvoso de eclipse lunar. Meio capricorniana, meio aquariana. Porque o tempo dela é assim, diferente. Elegante, veio ao mundo pesando pouco mais de 2,7 kg. Também, pudera, foram mais de 8 meses encarando uma dieta rigorosa intrauterina. Tudo culpa de um diabetes gestacional.
Muitas vontades, três nutricionistas, incontáveis furos nos dedos e muita frustração a cada resultado fora do limite depois, a gestação resultou em pouco mais de 3kg a mais. Nenhuma gota de insulina. Nenhuma alteração no volume de líquido amniótico, nem sinal de macrossomia. Os esforços têm suas recompensas.
Sem poder ultrapassar 39 semanas – também por causa do diabetes – foi dada a ordem de despejo pra pequena. Aliás, cumprida de forma exemplar por parte dela. Desde 36s estava posicionada: cabeça pra baixo, perna pra cima, lado esquerdo. Era só descer.
Mas meu corpo e minha mente não queriam ela longe dali. Foi um duro processo de convencimento. Teve balão, óleo de prímula, sexo, acupuntura, ioga, spinning babies, licença antecipada e… nada. Pouca dilatação, sem sinal de contração e muito medo. Muito choro, muitas dúvidas e muitas angústias. Foi preciso encarar a dinâmica cruel da rotina hospitalar.
Primeiro comprimido de misoprostol e nove horas pra conseguir subir da enfermaria para o quarto. Segundo, terceiro, quarto, quinto comprimidos e… nada. Só a exaustão de três dias de internação. Quarto coletivo, gente entrando e saindo, banho na criança ao lado de madrugada. Bebê chorando a noite inteira.
A cada quatro horas, a enfermeira vem com o antibiótico. A mão inchada com acesso pendurado e o remédio não desce. Chama a enfermeira, muda a posição do braço pra tentar dormir. E quem dorme? A comida é ruim e ainda é preciso cuidar pra manter a dieta. Não come o pão, não come o arroz, não toma o suco. E quem tem fome? Hora de medir a glicemia, hora de por a cinta pra monitorar a bebê.
Um colo do útero tão resistente quanto a muralha da China.
Foi preciso afirmar e reafirmar decisões. O prazo final estava chegando e eu tinha que parir minha filha. Na manhã de domingo, visitas canceladas. O desânimo bateu forte. Mas, finalmente, às dez da manhã, depois do sexto comprimido, chegam as primeiras contrações. Vira de um lado, vira do outro. Geme, uiva, assopra, canta o mantra: ‘Ooommmm’. A noite cai e o ritmo evolui pouco. O corpo implora por descanso. A dor não diminui, mas também não aumenta.
Um carro 1.0 numa subida sem fim.
Chuveiro, bola, exercício. Exercício durante a contração! O aditivo no combustível chega no abraço consolador do companheiro, do marido, do pai da criança. Lágrimas, olhos nos olhos. Ele suporta, carrega, entra de calça jeans no chuveiro. O coração e o útero se enchem de amor. Seis dedos de dilatação! Mas é preciso mais.
A analgesia é o alívio necessário e a ocitocina o último empurrão.
Força. Segura a respiração. Força. A cabeça. Dá pra sentir a cabeça! Como é cabeluda! Mais força. Empurra… E nasce! Sem chorar – porque é uma lady. E ela, enfim, vem pros braços da mãe.
Eu pari. E não só minha filha. Ali, naquele quarto de hospital, cheia de sondas penduradas, dei à luz minha família.
Parto normal. Porque somos teimosas, porque não desistimos, porque era pra ser assim.
Parto humanizado porque ao meu lado além de um homão da porra, que não me deixou desistir, estavam profissionais de competência inquestionável. Mas mais do que isso, muito mais. Ao meu lado estavam mulheres que olharam nos meus olhos, entenderam os meus medos e me abraçaram quando foi preciso. Me afagaram. Me acolheram. Me encheram de coragem. Como eu fui amada! E o amor é único combustível necessário para parir.
Obrigada por acreditarem em mim Dra. Priscila Huguet e Dra. Maria Otilia B Neo, e minhas queridas: obstetriz Dany Farias – Parteira e doula Dina De Paoli. Eu, Guss e Dorothy amamos vocês.