A sexualidade na gestação é um fenômeno estritamente humano, influenciada por fatores culturais, hormonais e neurofisiológicos.
Quando animais fazem sexo, à exceção de alguns macacos, não há contato visual. O objetivo do coito é apenas a procriação. A sexualidade dos humanos vai muito além disso, pois reforça vínculos, aproxima.
Apesar de ser a palavra mais procurada nos site de busca, sexo continua permanecendo um tabu até os dias de hoje. O ser humano tem idiossincrasias e, como o sexo é feito a dois, dobram-se as dificuldades. A gestação e a maternidade são fases muito ricas para a mulher, quando ocorrem adaptações físicas, psíquicas, emocionais e sexuais. O homem também sofre profundas transformações na sua identidade quando se torna pai (ainda que um pai “em gestação”, quando sua companheira engravida).
Quando o casal tem um padrão sexual satisfatório, este tende a manter-se próximo durante a gestação, sobretudo se a gestação foi planejada e/ou desejada, se há estabilidade no relacionamento. Algumas mulheres experimentam um aumento da libido durante a gestação , enquanto outras percebem diminuição da mesma. Dentre as alterações orgânicas no primeiro trimestre da gestação destacam-se: aumento do volume abdominal, alterações da pele, aumento da irrigação e da lubrificação vaginal, maior sensibilidade mamária. Pode haver náuseas e vômitos assim como mudanças na autoestima.
Já no segundo trimestre observam-se: edema (inchaço) da vulva e intensa lubrificação vaginal, secundários à maior congestão pélvica. Neste trimestre costuma ocorrer a fase de “lua de mel”, com maior frequência de relações sexuais. A barriga não está grande a ponto de atrapalhar o intercurso e a mulher já não sente mais as náuseas do primeiro trimestre. No terceiro trimestre, o volume abdominal está maior e o casal deverá achar novas posições que sejam prazerosas e possíveis para o sexo. Pode haver produção de colostro, o que para alguns casais pode ser desconfortável mas para outros pode ser uma novidade a ser explorada. O bebê costuma se mover mais neste trimestre. Há homens que não se sentem bem com isso, acreditam que podem machucar o bebê, mas ele está seguro, dentro da bolsa de líquido amniótico, protegido também pelo colo do útero fechado. Quanto mais conectado e harmonioso o casal estiver, mais feliz estará o bebê.
Alguns estudos descrevem diminuição de 40 a 60% da frequência sexual entre os casais durante a gestação. Não podemos falar de sexualidade na gestação sem falar dos homens cujas companheiras estão grávidas. Normalmente há uma ansiedade não só em relação ao parto, mas também em relação à criação do filho em si. Quando a mulher engravida o homem “engravida” junto, com todas as incertezas, dúvidas, temores, alegrias, expectativas que suas companheiras têm. Alguns homens até enjoam e engordam junto com elas! Pode haver também um endeusamento da companheira, com consequente queda do desejo . A futura mãe do seu filho, para alguns homens, perde muito da capacidade erótica. Não é incomum que haja ciúmes da relação que a mulher constroi com o bebê.
A mudança no corpo que a gestação provoca pode alterar o desejo do homem pela mulher (tanto pode diminuir como aumentar). Muitos homens temem a perda de espaço na relação após o nascimento do filho, sobretudo se for o primeiro filho do casal. No puerpério, que é o período que ocorre após o nascimento, o vínculo inicial do bebê é apenas com a mãe. Este não tem a noção de que ele é um indivíduo e a mãe, outro. A mãe vai satisfazer todas as necessidades do bebê. Muitos chamam os primeiros três meses após o parto de exterogestação (gestação fora do útero).
Sobra pouco espaço para o homem nestes primeiros meses. As relações, caso ocorram, serão poucas, rápidas, com pouco abandono do casal ao ato. À medida em que o bebê for crescendo e se tornando menos dependente, o vínculo entre a mulher e seu companheiro se reestruturará. Durante a fase de amamentação, sobretudo se esta é realizada em livre demanda, a prolactina está alta. Este hormônio elevado leva a uma diminuição importante da libido. Além disso, a mulher está 100% comprometida com os cuidados com o seu bebê. As noites de sono são interrompidas por choros, mamadas e trocas de fraldas. É compreensível que não sobre tempo ou disposição para o sexo.
A autoestima da mulher no puerpério fica abalada. O corpo mudou, ela não carrega mais seu filho dentro dela, agora ela não só mulher, mas também mãe. Como sentir -se um ser sexual com tantas mudanças? É essencial que ela se sinta segura, amada e desejada pelo parceiro. Há meios de não permitir que a vida íntima do casal seja abalada pela gestação e pelo puerpério. Para isso, há que se manter a sexualidade ativa, o que não significa coito propriamente dito. Algumas mulheres não podem ter sexo com penetração pênis-vagina durante a gestação e logo após o parto isto também não é possível. O namoro pode acontecer com carinhos, abraços, beijos, aconchego.
Dentre as situações em que o sexo não deve ser realizado na gestação, destaco: placenta prévia, antecedentes de partos prematuros, hemorragias sem investigação, dores abdominais intensas, insuficiência istmo-cervical (colo incompetente), lesão ativa por herpes ou outras ISTs, bolsa rota. A sexualidade aproxima, propiciando continuidade da harmonia conjugal.