Esse relato começa triste, mas termina bem. Prometo.
Fiz o acompanhamento do pré natal com um profissional que eu respeitava, e que desde sempre me dizia que faria parto normal. No finalzinho, eu, teimosa, percebi que o discurso não estava batendo com a prática. Era minha 6a gestação – depois de 4 abortos e uma gravidez gemelar que culminou em cesárea de emergência, mãe e filhos na UTI. Eu queria e merecia um parto humanizado.
Com 34 semanas conheci a Pri, indicada pela fisioterapeuta e doula. Gosto de médico que vai direto ao ponto – e gostei da Pri por isso. Ela já logo de cara me disse que na verdade eu já estava com quase 37 semanas analisando pelo US. Como eu tinha diabetes gestacional, combinamos a indução às 39 semanas com balão de foley. Estava tudo certo para uma sexta feira começar a trabalhar o colo. Acontece que nossos planos não combinam com o que está no nosso destino. Coloquei o balão pela manhã na sexta e nesse dia à noite, minha mãe faleceu repentinamente. Meu mundo desabou no momento que eu mais queria ela por perto.
Nesse momento é que uma equipe humanizada faz toda diferença. A Pri, a Leyla (enfermeira obstétrica) e a Marina (fisiodoula) me acompanharam no meio do caos emocional que eu me encontrava, e me perguntaram o que eu queria. Segui firme e forte na indução. Fui com balão no velório de minha mãe. Naquele final de semana triste, fizeram um revezamento, cada uma me via um dia para ver como eu estava. Na segunda feira, o colo tinha melhorado mas ainda precisávamos trocar o balão – não vou mentir, me doeu passar o primeiro – morri de medo do segundo balão que foi quase imperceptivel. Relaxei e o colo do útero trabalhou melhor. Na terça fui para descolar a membrana – e a bolsa estourou no consultório. Era água sem fim. Eu tremia de emoção e medo, imaginando que agora não tinha mais jeito – Antônio, o bebê esperado por mim e pela minha mãe teria de nascer e ela não estaria ali comigo. Coisas da vida, sem explicação. Saindo do consultório as contrações começaram já na recepção. Eu ia em casa buscar as roupas do bebê e felizmente mudei de ideia – fui direto pro hospital.
Cheguei no Renascença com quase 7 dedos de dilatação – a cada contração no carro, meu marido tinha que parar porque eu não tolerava o balanço do carro. Fui direto para a internação, ali já me esperavam a equipe que me apoiaria, Leyla e Marina. A Pri chegou logo depois. As contrações vinham e voltavam, eu ali respirando, e já tinha dito que queria anestesia no planejamento – na hora pedi com muuuuita vontade. O anestesista demorou um pouco, e hoje agradeço porque tive a oportunidade de passar por essas dores resignificantes que só mulher sente. O plano era tomar ocitocina, mas nem precisei – meu corpo sabia o que fazer.
Foram 13 horas que tentei o PN, agarradinha no terço de minha mãe. O tempo passava tão rápido que eu achei que tinha sido umas 4 horas no máximo. Nem me lembrei de pedir música, luz baixa…nada nada. Tentei nas mais diferentes posições. A cada contração, já com anestesia, eu fazia força mas a cabeça do bebê se desencaixava, provavelmente pela grande quantidade de líquido amniótico. Por fim a Pri sugeriu tentarmos um último recurso – o vácuo e fórceps. Fiz a maior força que consegui, mas Tom não passou. E rapidamente partimos para a cesárea – muito diferente da primeira. Antônio nasceu e veio para meu colo imediatamente (segue assim até hoje rs…6 meses depois). Ali meu terceiro filho chegou, cercado de amor, carinho, esforço e lágrimas. Eu cantava para ele, e ele parava de chorar. Emocionante, mesmo sendo cesárea. A Pri, Ana Paula (neonato), Marina e Leyla me curaram de um trauma – o que mostra que ter um parto humanizado não depende do modo de parto, e sim de como a gestante e bebê são tratados – respeitada até num momento tão difícil de luto pelo qual eu passava.
Depois do parto é outro relato rs. Porque passei pelos medos de pós cesárea misturado ao luto…tudo junto. Agora até pandemia veio acontecer no puerpério….rs…
Pri obrigada de coração. Não fiz o PN mas talvez o que eu precisava mesmo era ter uma cesárea que me curasse da cesárea anterior.
um grande abraço (virtual devido à pandemia)
Gabi e Antônio Tomtom